terça-feira, 24 de abril de 2018

Histórias entrelaçadas


Ao concluir a leitura de um livro (Os Crimes do Monograma, Agatha Christie por Sophie Hannah) e assistir uma série (Le Chalet) no final de semana, me peguei refletindo sobre a mente de uma pessoa. Quantos segredos mirabolantes uma mente é capaz de guardar!! De quanta engenhosidade uma mente é capaz! 
Entender o que se passa na mente das pessoas é trabalho para os profissionais da área. 
Neste post reuni textos, escritos no blog, reflexivos sobre a mente. Quantos sentimentos bons ou ruins estão lá, em algum canto da mente! 




TRAÍDA PELA MENTE


O tempo passou tão rápido que quase nem senti! As rugas enfeitam o meu rosto e não dá mais para disfarçar a idade. O cabelo ainda posso pintar para me iludir. Não sei se adianta, porque, o rosto e o corpo mostram a realidade. Em momento algum estou me queixando, aliás, sou agradecida pelos anos vividos.


Anos de dedicação à família e ao trabalho. Sempre fui muito ativa e consegui dar conta dos filhos pequenos e continuar os estudos. Me formei, comecei a trabalhar e fiz muitos cursos. Graças ao meu salário meus filhos puderam se formar. Sou uma mãe orgulhosa! 



Conforme a idade foi avançando, a minha memória começou a falhar. Com isso, perdi o direito de cuidar de mim. Meus filhos, muito preocupados, pensam que me tornei incapaz e não me deixam mais sair sozinha.



Perdi a vontade de me arrumar como antes. Eu era vaidosa, tinha o corte de cabelo da moda, as unhas sempre feitas e gostava de comprar roupas novas. Agora, vivendo dentro de casa, sem fazer nada, apenas comendo a comida que me servem, não preciso me preocupar com a aparência.



Não posso fazer um café para as amigas que raramente me visitam. Entendo que minhas amigas são ocupadas, algumas trabalham e outras têm algumas atividades. São mulheres donas de si. Mulheres que fazem a diferença, como já fiz, um dia! Toda a minha inteligência e altivez simplesmente desapareceram. Tornei-me uma mulher insignificante, um zero à esquerda, como dizem. Os diplomas e certificados não servem mais para nada. Os dons que sempre tive estão adormecidos. Fui traída pela mente! 



Meus dias são passados dentro de casa, mas especificamente, no quarto, assistindo televisão. Durmo, acordo, vejo um pouco de TV e durmo novamente. Nem preciso tirar o pijama. Faz muitos meses que não compro nada, não sei mais o preço das coisas. Então, por que me preocupar com a aparência? Uma das minhas filhas, às vezes, me leva para passear. Quando isso acontece, meu coração se alegra com a luz do sol. Nesses dias sinto de novo um vestígio daquela pessoa que fui no passado.



Sinto saudades da alegria que irradiava a minha alma, da autonomia que me fazia ser forte, batalhadora e ao mesmo tempo, frágil e vaidosa.



Perdi o contato com muitas amigas, não uso mais o celular. Talvez, elas tenham me ligado e como não retornei a ligação, elas acabaram me esquecendo. Não tenho redes sociais, então, estou completamente por fora do que acontece por aí. Sei apenas o que vejo na televisão. 


Pouca coisa, porque, como disse durmo muito. Deve ser o efeito dos medicamentos.

Sei que meus filhos só querem o meu bem, se preocupam comigo e é por isso que não me deixam cozinhar e nem fazer qualquer atividade doméstica.  E assim como cuidei deles quando eram pequenos e incapazes de se cuidarem sozinhos, eles cuidam de mim. 



Quem sabe se eles perceberem que ainda sou capaz de responder por mim, me deixem um pouco mais livre. Uma amiga muito querida (prometi a ela que não ficará esquecida num canto da minha memória), me disse que fui eu que deixei as coisas chegarem neste ponto. Pode ser que sim, me acomodei diante da situação e me deixei levar.  Entreguei os pontos sem protestar.



No fundo, sei que tenho muita vida pela frente e gostaria de ter encontrado alguém que me fizesse feliz. Isso, antes de eu ter desistido de mim. Desistido de viver!



Quem sabe, só estou precisando de um incentivo, um estímulo das pessoas que amo? A união da família, o amor que era o esteio entre nós, a alegria que contagiava as datas importantes do calendário. Como tudo isso se perdeu? Quando tudo isso deixou de fazer parte das nossas vidas? Será que foi no dia em que perdi o meu marido? 



Antes que a memória se perca completamente, quero voltar a me sentir confiante, pelo menos por um tempo. Confiante dos meus atos e desejos. Sem cobranças e pressão. Com amor e alegria. Quero ser eu como era antes. Dona de mim! Será que conseguirei ou não terei mais tempo? Essas perguntas assombram meus pensamentos sem que encontre as respostas.



A memória é o nosso bem mais precioso! É nela que guardamos as boas recordações, não é mesmo? 

O que fazer quando a memória começa a falhar? Tem a ver com a idade? O que você acha?



TARDE ENSOLARADA

Sentada na varanda, num dia lindo, de sol intenso, ela olha o movimento na rua. Espera que um daqueles transeuntes pare um pouquinho para conversar. São pessoas conhecidas que caminham em busca de algo. Espera ser notada por alguém, mas ninguém olha em sua direção.

As palavras estão presas na sua garganta e esperam ser jorradas, boca a fora, na primeira oportunidade. Esperar é o verbo mais conjugado naquela fase da sua vida. Muitas vezes a espera é longa, porém ela não desiste de esperar.

Espera pelo café todas as manhãs, pelo prato de comida na hora da refeição; espera pelo medicamento uma vez ao dia; espera por um afago, um sorriso, um estímulo. Espera pela visita das amigas, por um sorvete para refrescá-la naquele calor.

Enfim, espera por alguém que se interesse em dividir com ela os anos que lhe restam. Um companheiro da sua idade. Ainda sonha com passeios na praia, uma viagem de navio ou quem sabe de avião, e um jantar à luz de velas.

Os anos foram passando numa rapidez atordoante, que quando se deu conta já era uma anciã. As rugas não seriam nada se não sentisse sua alma envelhecida. Não estava caduca, disso tinha certeza. Apenas sentia um grande desânimo.

A juventude de outrora deixara saudades. Saudades de um grande amor, de momentos especiais, de uma vida bem vivida. Ela foi uma mulher ativa, decidida, resolvida que ao longo do tempo foi vencida pelo cansaço.

Cansaço mental, espiritual; que a deixa à mercê da ociosidade. Nada mais faz, além de ver o tempo passar sentada no degrau da sua varanda. Às vezes caminha até o final da rua para exercitar as pernas. Não tem hábitos de leitura, não faz nenhum artesanato e até a TV perdeu a graça.

De repente, os olhos brilham, o sorriso se faz presente naquele rosto, que um dia foi, tão sorridente. As amigas fazem-lhe uma surpresa após os abraços prolongados. Entregam-lhe um pequeno embrulho de presente.

Um simples presente, uma foto delas, num encontro festivo. Uma foto num lindo porta-retratos que a deixa imensamente feliz. Ela se vê tão bonita entre as amigas, bem arrumada, ereta, posando para a câmera. Foi um momento especial, que guardará para sempre.

Durante aquela tarde, as palavras que estavam sufocadas na sua garganta são despejadas para fora, num ritmo acelerado. Ela precisa aproveitar aquele momento para extravasar os sentimentos que estão adormecidos dentro de si. O desânimo deu uma trégua!

Ali mesmo, sentadas sobre o degrau da varanda, as amigas colocam os assuntos em dia. Riem muito e aquela, que ansiava por aquele momento, satisfaz seu ego. Ela coloca para fora as mágoas e rancores que lhe afligem o peito. As amigas ouvem pacientemente e fazem-na sentir-se viva e disposta para o que der e vier.

Uma tarde que valerá por um bom tempo até a próxima visita. Agora ela poderá olhar aquela foto e saberá que as amigas estarão sempre pensando nela. Mesmo que não a visitem com frequência. Mesmo que os dias demorem para passar até que se reencontrem novamente.

Muitas tardes ensolaradas, com as amigas, virão para iluminarem a sua vida. O riso estampará sua face e seu coração transbordará de alegria, nem que seja apenas por algumas horas. Então, agradecerá a Deus!



Trecho da música: Amizade sincera (Fábio Jr.)

Os verdadeiros amigos
Do peito, de fé
Os melhores amigos
Não trazem dentro da boca
Palavras fingidas ou falsas histórias
Sabem entender o silêncio
E manter a presença mesmo quando ausentes
Por isso mesmo apesar de tão raros
Não há nada melhor do que um grande amigo.


FORA DE CENA

Ela se recolheu à sua inércia. Cansou de lutar pelos seus direitos. Os fios de cabelos brancos agora tomaram conta da sua cabeleira. Já não sente mais saudades dos cabelos pintados e escovados.

Suas unhas, antes sempre pintadas, são apenas cortadas quando estão muito compridas. A vaidade se distanciou de tal maneira que ela não se importa mais.

Ela já foi linda de bonita, como diz a personagem de uma novela. Hoje é somente uma sombra da mulher que foi um dia. 

Veste a roupa que lhe dão, come a comida que lhe servem. 

O dia passa sem nenhuma novidade. A rotina é a mesma dos últimos anos. As rugas aumentam a olhos vistos. A pele flácida não a incomoda mais.

Ela perdeu a vontade de viver. Perdeu a alegria que a contagiava. Não reclama. Entregou os pontos, como no ditado popular.

A cortina se fechou. Ela nem lembra da última cena em que representou uma mulher feliz. Qual foi a última vez em que teve a família reunida? Foi há muito tempo! A imagem está se apagando da sua memória.

Seu palco agora é a sala onde passa o dia deitada no sofá vendo TV.

Quem se importa com a vida que ela está levando? Muitos dirão que ela é responsável pela escolha que fez. 

Será que se ela quisesse poderia mudar aquela situação? Se ela decidisse se impor, teria novamente as rédeas em suas mãos?

Por onde anda aquela mulher decidida, dona de si, inteligente e batalhadora? Será que ela não gostaria de voltar àqueles tempos? Por onde andarão os diplomas que conquistou ao longo da vida?

Ah, se ela tivesse disposição para ir ao salão de beleza e dar uma repaginada na sua vida! Sua autoestima, certamente, agradeceria!

Ela poderia fazer uma viagem para conhecer novas pessoas e novos lugares. Talvez conhecesse alguém interessante, que se preocupasse com ela. Mesmo que isso não acontecesse, só o fato de querer passear, comprar algo que a agradasse, seria o suficiente para tirá-la daquela monotonia em que estava confinada.

Aos olhos de muitos ela estava vivendo em cárcere privado. Na sua opinião, talvez tivesse se acostumado à comodidade. Do jeito que estava vivendo ela não precisava se preocupar com as contas, com os assaltos ou com qualquer coisa que fosse.

Nem mesmo a situação do país lhe interessava mais. Para ela tanto fazia a água correr para cima ou para baixo. (Mais um ditado popular)

Qual o cardápio do dia? O que fazer primeiro, lavar a louça ou a roupa? Essas pequenas preocupações do dia a dia já não faziam parte da sua rotina.  Lavar, passar ou cozinhar eram verbos que deixaram de ser conjugados há muito tempo. Assim como outros verbos, comuns no cotidiano das mulheres.

Quanto ao espelho que um dia foi um item que não podia faltar na bolsa ou no banheiro, hoje nem lembra da sua utilidade.

O que ele vai lhe mostrar? A pessoa que se tornou, uma flor murcha que perdeu a sua vivacidade e a sua beleza. Um zero a esquerda que não tem mais voz ativa. Alguém que se deixou dominar, que perdeu sua autonomia e a vontade de reagir.

O espelho não faz parte desta nova etapa da sua vida. Assim como o sol ou a alegria. Neste seu novo universo ela busca refúgio no aconchego do seu quarto ou no sofá da sala.

E assim os dias vão passando numa lentidão que a assusta. E lá deitada no sofá assistindo os mesmos programas de sempre, o dia se torna noite.

Ela não se queixa, não reclama. De que adiantaria? Sabe que ninguém a ouve!


Desalento


O que ela fez com a sua vida? Deixou-se levar pela vontade dos outros e perdeu o ânimo, a coragem. A lembrança da mulher determinada e vencedora tornou-se remota e em breve desaparecerá completamente da sua memória.

Presa na sua rotina sem graça ela passa pelos dias, semanas, meses a fio. Sente-se como um animal enjaulado. As pernas começam a atrofiar por falta de uma atividade física. Para levantar do sofá ela encontra dificuldades. Não tem a ver com a sua idade. Muitas mulheres idosas, colegas de outrora, ainda viajam, dançam, praticam atividades físicas.

Às vezes no meio do dia ela toma um banho para se refrescar e veste uma blusa de pijama. A vaidade foi embora há muito tempo. Abandonou-a. Dentro do seu guarda roupas, não tem nenhuma peça que a agrade. As roupas que estão ali não foram escolhidas por ela. Quando foi a última vez que comprou algo para si?

O calor é intenso e ela não encontra o ventilador. Devem ter levado dali. Ela pega uma revista para se abanar. Usa-a como se fosse um leque. Pelo menos havia uma revista por ali. Alguém a deixou no sofá. Ela folheou-a procurando uma notícia interessante. De repente se deu conta, ao olhar a data, que a revista era velha. Volta, então, a usá-la como leque. A revista é mais útil dessa maneira.

Seus cabelos desalinhados e embranquecidos rejeitam o pente. Ou será a sua mão que não tem mais firmeza para segurar o pente e pentear seus cabelos? Os fios estavam embaraçados. Ela para de tentar ajeitá-los para se abanar.

Batem na porta nessa tarde quente de verão. Ela ouve seu nome. Não se importa que está vestida com a blusa do pijama. Vai atender a porta. Coloca a revista debaixo do braço para liberar a mão. O pente continua na outra mão.

Ela recebe as amigas com um leve e cansado sorriso. Um misto de alegria e alívio. 

- Que bom que vieram me ver, eu estava pensando em vocês.

Uma das amigas vendo o pente em suas mãos, pega-o e penteia seus cabelos com facilidade. Enquanto isso conversam relembrando os bons momentos do passado. Querem alegrá-la, distraí-la um pouco.

Ela fica perdida ouvindo a conversa das duas, olhando para uma e outra sem entender nada.

- Vou me intrometer no assunto de vocês, mas sobre o que vocês estão falando mesmo?

As duas amigas tentam fazê-la participar da conversa. Em determinados momentos ela ri, parece entender sobre o que estão falando. Ela procura participar comentando sobre alguns fatos.

Em outros momentos ela fala coisas sem nexo. Parece que fala qualquer coisa apenas para participar da conversa.

Ao lhe perguntarem sobre sua saúde, ela diz que não tem doença nenhuma. Não toma nenhum medicamento. 

- Então, por que você não sai para passear, para caminhar um pouco, ver gente? - pergunta uma das amigas.

Ela responde que não tem vontade. Desde o dia que perdeu o direito de cuidar de si, perdeu também o estímulo, o desejo, a iniciativa.
Talvez ela nem consiga mais sair sozinha. As pernas estão perdendo as forças. A visão começa a ficar turva. A catarata está cobrindo seus olhos. Essas coisas são notadas e não faladas pelas visitantes.

Ela comenta que acredita que ninguém sente a sua falta. Ninguém a procura exceto as duas que estão sempre ali. Por onde andam àquelas que se diziam amigas? Provavelmente, entretidas com suas atividades diárias.

-E seus filhos? - Uma delas quis saber.

-Meus filhos têm seus afazeres, suas ocupações, não podem ficar o tempo todo comigo. Quando eles têm tempo aparecem por aqui.

Geralmente, quando ela está enjoada da televisão, olha pela janela para acompanhar o movimento da rua. Olhar o trânsito ajuda-a a passar o tempo. É um ótimo entretenimento. Às vezes ela conta os carros que passam, como se estivesse contando carneirinhos quando perdia o sono.

Outra coisa que ela faz é conversar com o cachorro, que sempre esquece o nome, para ouvir a própria voz. Com o cachorro como ouvinte ela fala coisas do passado. Repete a mesma história. O cachorro não reclama. É um bom ouvinte.

Quando as amigas chegam ela não tem assunto para conversar. Suas amigas conhecem de cor e salteado as suas histórias. Ela prefere ouvir as novidades do mundo lá fora. Novidades que entrarão por um ouvido e sairão por outro. Sua memória não retém mais como antigamente. 

Não reclama de nada. Foi ela quem se permitiu àquela vida. Agora não pode mais voltar atrás. Ou talvez, quem sabe, não tenha força para reagir. O isolamento tornou-se cômodo.

As amigas prometem levá-la para passear. Ela diz que vai aguardar pelo passeio. Se as pernas permitirem. 

Quem sabe sua alma, aparentemente morta para o mundo, reencontra a vontade de viver?

Suas amigas vão embora muito tristes por vê-la desanimada. Será que ainda há esperança para aquela pobre mulher? Ela precisa reagir. Lá fora existe vida. Ela tem que observar o vai e vem de pessoas que transitam pela cidade nas tardes ensolaradas.

Ela precisa se sentir, novamente, parte da comunidade onde mora. Ela deve mostrar aos filhos que tem vontade própria. Que ainda é capaz de escolher o que come e o que veste. Que é capaz te ter as suas próprias decisões. 

 Ela deixará a vida em preto e branco para se aventurar numa nova vida, uma vida repleta de cores?




Grata pela visita,

Cidália.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Reclamações


Numa manhã chuvosa, após uma noite mal dormida, sem inspiração para escrever, ao ver uma publicação num dos grupos que participo, de vez em quando, das interações, me peguei refletindo.

Como tem gente que só sabe reclamar! Qualquer coisa é motivo para reclamação. Talvez um dia eu também tenha sido como essas pessoas. Talvez eu já tenha reclamado de tudo ao longo da vida.

Sim, já tenho muitos anos vividos, graças a Deus, e com o tempo aprendi que não devemos reclamar de nada. A gratidão passou a fazer parte dos meus dias. No momento em que abro os olhos, ao acordar, agradeço pela vida. Muitos não acordam. Meu pai deitou-se para dormir como fazia todas as noites e na manhã seguinte não acordou.

Algumas pessoas dirão: - Ah, mas eu não sou uma pessoa passiva, se algo não me agrada, reclamo. Não discordo dessas pessoas. 

Quando há alguma coisa errada que está nos prejudicando, então sim, há necessidade de reclamação.

Mas, reclamar à toa, reclamar apenas pelo fato de reclamar? A insatisfação faz parte do dia a dia dessas pessoas?

Penso que se algo não me agrada, deixo de fazer. Sem polêmica. Ninguém é obrigado a fazer nada contra a vontade. Se é uma troca, faço a minha parte mesmo que o assunto em questão não me agrade.

- Ah, Fulana, eu não sou como você. Eu reclamo mesmo. Não aceito coisa errada.

- Espera aí, não falei que aceito coisa errada. Só comentei que não reclamo por qualquer coisa.

- Cada um tem um ponto de vista.

- Sim, sem dúvida. Eu também reclamo, se algo não estiver me agradando. Ou simplesmente deixo àquilo de lado, ignoro.

Sou uma pessoa pacífica. Em tempos de guerra, penso que o melhor a fazer é semear o amor e não a discórdia. 


Só precisamos de um coração cheio de graça. De uma alma gerada pelo amor. Vamos dar mais amor ao mundo! ”


Nesse mundo virtual só conhecemos as pessoas através das fotos e do que elas escrevem.  Como elas se apresentam em seus perfis.

Desde que comecei a participar das interações, muitas pessoas passaram pelo meu blog e deixaram comentários. Assim como eu passei por muitos blogs e deixei comentários.

Sempre procurei cumprir as regras dos grupos. Já saí de um grupo quando a administradora não aceitou mais os blogs que não faziam resenhas de livros. Me senti um peixe fora d’água, vesti a carapuça e saí fora.

Ao invés de reclamar, seja grato, tenha empatia.


PS: Isto é apenas um desabafo, fique a vontade para fazer um comentário. Sua opinião será bem vinda!

Grata,

Cidália.







quarta-feira, 11 de abril de 2018

Desalento



O que ela fez com a sua vida? Deixou-se levar pela vontade dos outros e perdeu o ânimo, a coragem. A lembrança da mulher determinada e vencedora tornou-se remota e em breve desaparecerá completamente da sua memória.

Presa na sua rotina sem graça ela passa pelos dias, semanas, meses a fio. Sente-se como um animal enjaulado. As pernas começam a atrofiar por falta de uma atividade física. Para levantar do sofá ela encontra dificuldades. Não tem a ver com a sua idade. Muitas mulheres idosas, colegas de outrora, ainda viajam, dançam, praticam atividades físicas.

Às vezes no meio do dia ela toma um banho para se refrescar e veste uma blusa de pijama. A vaidade foi embora há muito tempo. Abandonou-a. Dentro do seu guarda roupas, não tem nenhuma peça que a agrade. As roupas que estão ali não foram escolhidas por ela. Quando foi a última vez que comprou algo para si?

O calor é intenso e ela não encontra o ventilador. Devem ter levado dali. Ela pega uma revista para se abanar. Usa-a como se fosse um leque. Pelo menos havia uma revista por ali. Alguém a deixou no sofá. Ela folheou-a procurando uma notícia interessante. De repente se deu conta, ao olhar a data, que a revista era velha. Volta, então, a usá-la como leque. A revista é mais útil dessa maneira.

Seus cabelos desalinhados e embranquecidos rejeitam o pente. Ou será a sua mão que não tem mais firmeza para segurar o pente e pentear seus cabelos? Os fios estavam embaraçados. Ela para de tentar ajeitá-los para se abanar.

Batem na porta nessa tarde quente de verão. Ela ouve seu nome. Não se importa que está vestida com a blusa do pijama. Vai atender a porta. Coloca a revista debaixo do braço para liberar a mão. O pente continua na outra mão.

Ela recebe as amigas com um leve e cansado sorriso. Um misto de alegria e alívio. 

- Que bom que vieram me ver, eu estava pensando em vocês.

Uma das amigas vendo o pente em suas mãos, pega-o e penteia seus cabelos com facilidade. Enquanto isso conversam relembrando os bons momentos do passado. Querem alegrá-la, distraí-la um pouco.

Ela fica perdida ouvindo a conversa das duas, olhando para uma e outra sem entender nada.

- Vou me intrometer no assunto de vocês, mas sobre o que vocês estão falando mesmo?

As duas amigas tentam fazê-la participar da conversa. Em determinados momentos ela ri, parece entender sobre o que estão falando. Ela procura participar comentando sobre alguns fatos.

Em outros momentos ela fala coisas sem nexo. Parece que fala qualquer coisa apenas para participar da conversa.

Ao lhe perguntarem sobre sua saúde, ela diz que não tem doença nenhuma. Não toma nenhum medicamento. 

- Então, por que você não sai para passear, para caminhar um pouco, ver gente? - pergunta uma das amigas.

Ela responde que não tem vontade. Desde o dia que perdeu o direito de cuidar de si, perdeu também o estímulo, o desejo, a iniciativa.

Talvez ela nem consiga mais sair sozinha. As pernas estão perdendo as forças. A visão começa a ficar turva. A catarata está cobrindo seus olhos. Essas coisas são notadas e não faladas pelas visitantes.

Ela comenta que acredita que ninguém sente a sua falta. Ninguém a procura exceto as duas que estão sempre ali. Por onde andam àquelas que se diziam amigas? Provavelmente, entretidas com suas atividades diárias.

-E seus filhos? - Uma delas quis saber.

-Meus filhos têm seus afazeres, suas ocupações, não podem ficar o tempo todo comigo. Quando eles têm tempo aparecem por aqui.

Geralmente, quando ela está enjoada da televisão, olha pela janela para acompanhar o movimento da rua. Olhar o trânsito ajuda-a a passar o tempo. É um ótimo entretenimento. Às vezes ela conta os carros que passam, como se estivesse contando carneirinhos quando perdia o sono.

Outra coisa que ela faz é conversar com o cachorro, que sempre esquece o nome, para ouvir a própria voz. Com o cachorro como ouvinte ela fala coisas do passado. Repete a mesma história. O cachorro não reclama. É um bom ouvinte.

Quando as amigas chegam ela não tem assunto para conversar. Suas amigas conhecem de cor e salteado as suas histórias. Ela prefere ouvir as novidades do mundo lá fora. Novidades que entrarão por um ouvido e sairão por outro. Sua memória não retém mais como antigamente. 

Não reclama de nada. Foi ela quem se permitiu àquela vida. Agora não pode mais voltar atrás. Ou talvez, quem sabe, não tenha força para reagir. O isolamento tornou-se cômodo.

As amigas prometem levá-la para passear. Ela diz que vai aguardar pelo passeio. Se as pernas permitirem. 

Quem sabe sua alma, aparentemente morta para o mundo, reencontra a vontade de viver?

Suas amigas vão embora muito tristes por vê-la desanimada. Será que ainda há esperança para aquela pobre mulher? Ela precisa reagir. Lá fora existe vida. Ela tem que observar o vai e vem de pessoas que transitam pela cidade nas tardes ensolaradas.

Ela precisa se sentir, novamente, parte da comunidade onde mora. Ela deve mostrar aos filhos que tem vontade própria. Que ainda é capaz de escolher o que come e o que veste. Que é capaz te ter as suas próprias decisões. 

 Ela deixará a vida em preto e branco para se aventurar numa nova vida, uma vida repleta de cores?

Sua visita me deixa muito contente!

Obrigada,

Cidália.






terça-feira, 3 de abril de 2018

Arrependimento - FINAL


Antes de iniciar a leitura do capítulo final, se você quiser acompanhar a história desde o princípio, seguem os links:

http://contosdacabana.blogspot.com.br/.../arrependimento...

http://contosdacabana.blogspot.com.br/.../arrependimento...

http://contosdacabana.blogspot.com.br/.../arrependimento...

http://contosdacabana.blogspot.com.br/.../arrependimento...

http://contosdacabana.blogspot.com.br/.../arrependimento...

http://contosdacabana.blogspot.com.br/.../arrepedimento...

Fui transferido para uma prisão bem longe da minha cidade. Uns 450 km de distância, segundo o advogado.

O guarda que me acompanhava não era de muita conversa. Era um homem de cara marrenta. Me lembrou o personagem de um filme de terror.

Não senti a viagem, porque ao entrar no veículo que me transportaria, apaguei. Pelo menos dormindo, eu não pensava.

Quando cheguei ao meu novo "lar", fui levado a uma cela onde estavam outros caras. O mais jovem era eu. Entrei de cabeça erguida e os cumprimentei. 

Numa breve apresentação fiquei sabendo que ali, naquela cela, todos eram assassinos. Eu era apenas mais um número. No olhar frio de cada um, senti que para eles matar era normal. Três deles haviam matado mais de uma pessoa.

Para viver num lugar como aquele eu não podia me fazer de santo. Já tinha aprendido algumas “tretas” na outra penitenciária. Se eu não fosse esperto corria riscos ali. Eu não pretendia ser a “mulherzinha” de ninguém. Vi coisas horríveis na outra prisão. Alguns presos se metiam em confusões e se davam mal. Passei por maus momentos. Momentos que quero apagar da minha memória.

Guardei meus pertences, as fotos da família e uma bíblia, que minha mãe mandara, debaixo do meu colchão. O dinheiro que a Isabel me dera estava escondido dentro da meia. Precisava arrumar um esconderijo. Dinheiro chamava atenção.

Quanto à bíblia eu tinha pouco contato. Conhecia algumas passagens da época em que fiz catecismo. Deixei de frequentar a igreja logo que me envolvi com os “amigos” na escola.

Não sei o que minha mãe pensou ao me enviar uma bíblia. Eu teria muito tempo para descobrir qual era a intenção dela. Sequer a abri. Guardei-a junto com as fotos. A única coisa que gostei de ler na infância foi gibi. 

Aos poucos fui me habituando naquele ambiente. Como eu não tinha opção, o jeito era me adaptar. Comecei a fazer artesanato com palitos de sorvete. Aquelas aulas ajudavam a passar o tempo e ocupavam a minha mente.

No começo foi difícil, mas acabei aprendendo. Ver aqueles palitos se transformando em barcos e aeronaves era gratificante. Acabei me tornando um artista. Eu poderia enviar de presente para minha mãe. Seria uma fonte de renda, se ela quisesse.

Nunca fui adepto aos exercícios físicos, mas ali, praticar qualquer tipo de atividade era muito útil.  Aliviava a tensão em que eu vivia. Tempo eu tinha de sobra. O artesanato e as atividades físicas me ajudavam muito.

A segunda carta da minha irmã, cinco anos depois daquele abraço, que acarinhou a minha alma, não me trouxe boas notícias.

“Olá Diogo, sinto muito ter que lhe dar uma notícia ruim, mas você precisa saber que o papai teve um derrame. Quase não dá para entender o que ele fala. Você lembra que após o infarto ele já não era mais o mesmo? Agora ele está irreconhecível. Ele parece a sombra do homem que foi um dia. A mamãe tem que se fazer de forte para cuidar dele. Não dou conta de cuidar de tudo e de todos. A vida segue seu curso. E você como está de saúde? A mamãe pensa muito na sua alimentação e na maneira como você vive aí. Cada vez que ela vê uma notícia sobre alguma penitenciária, passa mal. Me liga para saber se a tal rebelião não é no presídio que você está. Mande notícias, assim ela ficará mais tranquila. Beijos da sua mana,
Isabel.

Aquela notícia me deixou arrasado. Pobre papai. Como alguém como ele podia ficar doente? Devia ser proibido. Que infortúnio! A má sorte o rondava? Talvez, inconformado com o que aconteceu comigo, ele tenha perdido a vontade de viver.

Somente após receber a terceira carta da minha irmã foi que eu tive coragem para respondê-la.


"Isabel, enfim, depois de inúmeras tentativas, consegui escrever esta carta. As fotos que você deixou comigo são um alento para os momentos de angústia e tormento. Muitas vezes pensei em acabar com a minha vida para me redimir do meu pecado. Como pude tirar a vida de um ser humano, se nunca fui capaz de matar um bichinho qualquer? Só agora posso imaginar o mal que causei a vocês e à família daquele homem. É difícil pensar no papai, um homem trabalhador, hoje um inválido. Espero que um dia vocês possam me perdoar. Sei que a mamãe não acredita na minha culpa, mas o que fiz foi motivado pelas drogas. Ela precisa aceitar que sou tão culpado quanto meus companheiros. No Natal poderei ir para casa. Serão poucos dias que aproveitarei ao máximo com vocês. Obrigada por me manter a par das novidades. Foi bom saber que o papai está reagindo bem ao tratamento. Um grande abraço a todos,

Diogo."

Sei que meu arrependimento chegou tarde. Destruí a minha vida e causei tristeza à minha família.
Aqueles “amigos” que foram companheiros nas burradas não sei onde foram parar, sei apenas que fomos separados para cumprir a nossa pena.

Muitas vezes sei que sou repetitivo. Neste lugar temos poucas novidades. Os assuntos são sempre os mesmos. Como quero sair logo deste lugar por bom comportamento, evito confusão. Me afasto dos elementos maus encarados. Não ligo que caçoem de mim. Bem, como faço muitas atividades físicas, estou com o corpo definido e minha aparência impõe um certo respeito.

Chegou o Natal e eu pude sair em salvo conduto para visitar a minha família. Eu estava retornando para casa depois de longos anos sem ver meus pais e irmãos. Qual seria a reação deles ao me ver? Qual seria a reação dos vizinhos? Qual seria a minha reação?

Ao descer na rodoviária, fui discreto. Não encontrei nenhum conhecido. Se alguém me reconheceu não parou para falar comigo. Passei entre as pessoas que transitavam por ali como se fosse um ser invisível. 

Em casa, a família me aguardava com alegria. Meu irmão e a esposa foram me encontrar no portão. Quase não reconheci meus sobrinhos. Meu pai veio ao meu encontro com os braços abertos.

- O filho pródigo está de volta - Sua voz ainda estava enrolada devido ao derrame, mas consegui entender bem suas palavras.

Minha mãe não parava de chorar e seu abraço foi tão forte que pensei que ela não me soltaria mais. Minha irmã e meu cunhado tiveram que esperar um bom tempo para chegarem perto de mim. Minhas lágrimas não paravam de cair.

A única palavra que consegui pronunciar foi "perdão". Nem sei se alguém me ouviu, pois nem eu mesmo ouvi a minha voz. Percebi naquele momento a falta que fiz para minha família. Eu havia me tornado um ladrão e um assassino, mas para minha família eu continuava sendo o filho caçula. O filho que estava longe e estava retornando para casa, mesmo que fosse apenas para passar um feriado. Era como se eu morasse em outra cidade como o Zequinha e não estivesse vindo de uma prisão.

Na sala, os objetos feitos por mim, enfeitavam a estante. Percebi, que apesar de tudo, minha mãe sentia orgulho de deixar à vista aquelas peças de artesanato. Ela não sentia vergonha de mostrar para as visitas o meu trabalho. Para ela eram obras valiosas.

Meu quarto continuava do jeito que eu lembrava. Sobre a cama alguns presentes esperavam por mim. Presentes que eu deixaria ali a minha espera. Algumas roupas novas e perfumes. Para o lugar que eu retornaria àquelas coisas não seriam necessárias. 

No final da tarde saí no quintal de casa e cumprimentei alguns vizinhos que me viram por ali. Minha mão estava trêmula. Mesmo assim cumprimentei-os de mão pegada e de cabeça erguida. Nenhum dos vizinhos se atreveu a fazer qualquer tipo de pergunta. Se tiveram vontade, faltou coragem.

- Oi, boa tarde, tudo bem?

- Boa tarde, Diogo, tudo bem?

Depois de tanto tempo, ver aquelas pessoas foi muito bom. Para uma das vizinhas fui eu quem fez algumas perguntas.

- O Fábio vem passar o Natal aqui?

- Sim, ele vem com a família.

- Ele casou? 

- Casou e tem um filho.

O Fábio era muito amigo do meu primo Mauricio. Ele era alguns anos mais velho que eu. Apenas nos cumprimentávamos quando nos víamos. O Fábio havia saído de casa bem jovem para estudar fora.

Quanta coisa tinha acontecido por ali enquanto eu vivia trancafiado. A vida seguira seu curso como escrevera minha irmã. Somente a minha vida fora interrompida. Troquei a liberdade pelo cárcere.

Fiquei sabendo que meu primo Mauricio havia ido embora para os Estados Unidos e casado por lá. Nem todas as novidades a Isabel me contava nas cartas. Penso que ela não queria que eu me sentisse chateado. Quem sabe ela achava que eu poderia ficar triste ao saber que meu primo estava bem, enquanto eu estava ali, naquele lugar, junto com os criminosos. 

Eu me tornara um criminoso, não podia mais mudar a minha condição. Minha família precisava entender isso. Nenhuma justificativa atenuava meus atos.

O Natal daquele ano foi maravilhoso. Aquela última semana foi mágica. Passei muitas horas com meus pais. Ouvi com atenção algumas leituras da Bíblia feitas pela minha mãe. Sua voz acalentava minha alma. Eu voltava a ser um bebê ouvindo uma cantiga de ninar.

Na virada do ano saí para ver o movimento na praça. Não fui sozinho. Minha irmã e a família me acompanharam. Encontrei alguns colegas da época da escola. Trocamos algumas ideias. Nada sobre a cadeia. Conversamos sobre futebol e música.

Por uma semana pude sentir o gosto da liberdade novamente. Tive que voltar para a minha cela e esperar pelo próximo salvo conduto. Os momentos que passei com a família me deram ânimo para suportar a minha rotina atrás das grades.

Aqui estou eu sentado num canto da cela, sozinho e cada vez, mais reflexivo. Não me resta outra coisa para fazer a não ser pensar e pensar. Hoje, doze anos após eu e meus “amigos” cometermos o maior erro da nossa vida, não me canso de pedir perdão a Deus.

Acredito que sairei em breve por bom comportamento. Meu novo advogado me deu esperança. Já faz um tempo que trabalho na cozinha do presidio. Aprendi a cozinhar. Quando voltar definitivamente para casa dos meus pais terei uma profissão. Poderei devolver a eles o dinheiro que gastaram comigo. Afinal eles merecem uma velhice confortável.

Continuo sem notícias dos "amigos", mas espero que eles tenham aprendido alguma coisa com o erro. Eu aprendi. Só penso em aproveitar cada momento livre como na música que aquece o meu coração nas noites frias desta cela. Canto-a baixinho para que meus companheiros não se incomodem.

https://www.youtube.com/watch?v=xHfjEkZp5xc   (Ouça a música enquanto faz a leitura)

Assim vou vivendo, um dia após o outro, com a fé de sair dali, em breve, para poder aproveitar o máximo o tempo com meus pais. Os anos perdidos não serão recuperados. Porém, os anos vindouros, me trarão uma nova chance.

FIM


Sonho de Ícaro





Voar voar
Subir subir 
Ir por onde for
Descer até o céu cair 
Ou mudar de cor
Anjos de gás 
Asas de ilusão 
E um sonho audaz feito um balão
No ar no ar eu sou assim 
Brilho do farol 
Além do mais amargo fim 
Simplesmente sol 
Rock do bom 
Ou quem sabe jazz
Som sobre som
Bem mais, bem mais
O que sai de mim vem do prazer
De querer sentir o que eu não posso ter
O que faz de mim ser o que sou
É gostar de ir por onde, ninguém for
Do alto coração
Mais alto coração
Viver, viver
E não fingir
Esconder no olhar pedir não mais
Que permitir
Jogos de azar
Fauno lunar
Sombras no porão
E um show vulgar
Todo verão
Fugir meu bem
Pra ser feliz
Só no pólo sul
Não vou mudar
Do meu país
Nem vestir azul
Faça o sinal
Cante uma canção
Sentimental
Em qualquer tom
Repetir o amor já satisfaz
Dentro do


PS: Ilustrações feitas pelo meu sobrinho Marcos Wagner. 


Só tenho a agradecer a visita e o carinho de você que leu um capítulo ou que acompanhou o conto desde o início.


Um abraço,


Cidália.