O casamento dos pais da Mirella durou pouco tempo, por isso ela tem pouquíssimas lembranças daquela época. Sua mãe não exigiu a pensão alimentícia a que teria direito. Preferiu arregaçar as mangas para criar a pequena.
Ela não lembra a quem dirigiu a palavra "papai" quando aprendeu a falar. Ao seu avô ou a seu tio mais velho, irmão da sua mãe? Ou a nenhum dos dois, talvez. Deve ter se dirigido ao pai, pois foi uma criança precoce, aprendeu a falar antes dos pais se separarem.
A avó da menina foi peça fundamental na sua criação. Ajudou a cuidar dela para que sua mãe pudesse trabalhar sossegada.
Quando a sua mãe casou novamente tentou cuidar dela, porém depois de algum tempo, a menina voltou para a casa da avó.
Onde estava seu pai biológico? Ela sabia que ele existia, apesar do distanciamento. Como toda criança ela queria ter crescido perto dele. Queria que ele acompanhasse o seu desenvolvimento.
Onde estava seu pai biológico? Ela sabia que ele existia, apesar do distanciamento. Como toda criança ela queria ter crescido perto dele. Queria que ele acompanhasse o seu desenvolvimento.
Todos os anos no dia dos pais, Mirella esperava que seu pai aparecesse. Ela ansiava por uma abraço carinhoso. Ela tinha o padrasto, mas não gostava dele. O abraço do avô não substituía o abraço que ela esperava receber do seu pai.
Os cartões feitos na escola eram dados ao avô, quando na verdade a menina queria entregá-los ao seu pai.
Anos após anos, Mirella sentia inveja de suas amigas e até mesmo de suas irmãs por parte de mãe. Elas tinham a presença do pai e um abraço carinhoso a hora que quisessem.
Seu pai, assim como sua mãe, também formara outra família. Tinha outros filhos que ocupavam sua vida e recebiam seus abraços. Talvez por isso ele não sentisse falta da filha que deixou para trás.
Mirella passou toda a infância sem a presença dele. Na adolescência a ausência daquele homem, que fora importante na sua concepção, foi marcante. Ela sonhava passear de mãos dadas com o seu pai e tê-lo junto a si nas datas comemorativas, nos eventos escolares e no seu casamento.
Ela sabia que seus irmãos por parte de pai tinham tudo aquilo que ela desejava, aquilo que nunca havia recebido dele. Para ela não havia sequer alguma migalha do amor paterno.
No dia do casamento, como todas as noivas, o sonho era ter o pai ao seu lado caminhando até o altar e entregando-a ao noivo.
Tudo não passou de um sonho. Seu pai não participou de nenhum momento importante da sua vida. Mas, ela continuava acreditando que um dia receberia o tal esperado abraço.
Depois que Mirella se tornou mãe pela primeira vez, de um belo menino, com o apoio do marido, um rapaz de coração puro e bondoso, resolveu dar uma chance ao pai. Foram visitá-lo para que ele conhecesse o neto.
Mirella se apiedou do homem sofrido que encontrou, após anos de separação. Sentiu empatia por ele. Conheceu seus irmãos, adicionou-os em sua rede social.
A partir daquele dia começaram a manter contato. Falavam-se por telefone e a esperança de ter o amor do pai a encheu de esperança. Voltou a ser aquela menina carente do amor paterno.
Ele veio visitá-la, uma vez, antes do pequeno Arthur completar um ano de idade.
O tempo passou muito rápido, cada um levando a sua vida. As conversas telefônicas foram diminuindo. As mensagens foram rareando.
Pela segunda vez, Mirella se tornou mãe. Nasceu uma linda menina, a Manuela. Mais uma vez, ela sentiu necessidade da presença do pai. Queria que ele estivesse presente na vida dos netos como não esteve na sua.
Por mais duas vezes, ela e a família foram ao encontro do seu pai. A primeira para ele conhecer a neta e a segunda para estreitarem os laços. Seus filhos precisavam conhecer o avô e aprender a amá-lo.
Esse último encontro aconteceu em 2012. Dali em diante foram muitas promessas, por parte dele, de que viria visitá-los. A decepção aumentava a cada desilusão.
E a cada promessa não cumprida, depois que a neta começou a sentir a sua ausência, vinha o choro da menina. O neto, muito apegado aos avós paternos, ficava indiferente. Mirella, cansada das promessas, parou de se comunicar com ele.
Assim como ela cresceu sem o amor de pai, seus filhos teriam que crescer sem o amor do avô materno.
E a cada promessa não cumprida, depois que a neta começou a sentir a sua ausência, vinha o choro da menina. O neto, muito apegado aos avós paternos, ficava indiferente. Mirella, cansada das promessas, parou de se comunicar com ele.
Assim como ela cresceu sem o amor de pai, seus filhos teriam que crescer sem o amor do avô materno.
Este ano, ela soube que seu pai estava vindo todo final de semana para se encontrar com uma mulher.
No domingo de Páscoa, ela estava na casa da avó, sua segunda mãe, quando ele apareceu.
No domingo de Páscoa, ela estava na casa da avó, sua segunda mãe, quando ele apareceu.
O neto o cumprimentou com educação e a neta o abraçou carinhosamente. Esqueceu das promessas não cumpridas. Todos os outros familiares o trataram bem. Porém, ela, a filha que por muito tempo esperou um abraço caloroso, uma declaração (tardia) de amor, percebeu que dentro dela não havia mais nenhum sentimento de ternura por ele.
Enquanto lavava a louça, lágrimas teimavam em escorrer do seus olhos. Sentia-se vazia. Ele despediu-se sem o abraço de desculpas pelo abandono, sem a promessa de que se faria presente na sua vida e na vida dos netos.
Ele tinha vindo, não por causa dela, mas por causa da namorada que arrumara. Agora não havia desculpas de falta de tempo ou outra desculpa qualquer. Ele estava vindo todo final de semana.
Onde estava o amor de pai e filha? Talvez ele não soubesse ou não tenha conseguido expressar seus sentimentos. Talvez ele tenha perdido a oportunidade de buscar uma reconciliação. De justificar seus erros.
E Mirella? Mesmo admitindo que não sente mais nada pelo pai, no fundo ela ainda espera por aquele abraço que tanto fez falta na sua infância e adolescência. Ela espera que ele a reconquiste aos poucos, que insista pelo seu perdão, que desperte em seu coração aquele amor que foi sufocado pelas mágoas.
Quando um homem se separa da esposa, ele não pode esquecer os filhos mesmo que forme outra família e tenha outros filhos. Não pode magoar os sentimentos de uma criança. Sempre é tempo para recomeçar, para se perdoar e ser perdoado.
As lágrimas secam nos olhos de Mirella assim como a esperança de um relacionamento normal entre pai e filha desaparece.
Aquele abraço que ela esperou a vida toda receberá um dia? Seu pai a conquistará novamente? Os laços serão reatados entre os dois?
Obrigada pela visita e pelo comentário!
Uma linda semana!!
Beijos,
Cidália.
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Cidália.