domingo, 23 de abril de 2017

Desilusão


O casamento dos pais da Mirella durou  pouco tempo, por isso ela tem pouquíssimas lembranças daquela época. Sua mãe não exigiu a pensão alimentícia a que teria direito. Preferiu arregaçar as mangas para criar a pequena.

Ela não lembra a quem dirigiu a palavra "papai" quando aprendeu a falar. Ao seu avô ou a seu tio mais velho, irmão da sua mãe? Ou a nenhum dos dois, talvez. Deve ter se dirigido ao pai, pois foi uma criança precoce, aprendeu a falar antes dos pais se separarem.

A avó da menina foi peça fundamental na sua criação. Ajudou a cuidar dela para que sua mãe pudesse trabalhar sossegada.

Quando a sua mãe casou novamente tentou cuidar dela, porém depois de algum tempo, a menina voltou para a casa da avó.

Onde estava seu pai biológico? Ela sabia que ele existia, apesar do distanciamento. Como toda criança ela queria ter crescido perto dele. Queria que ele acompanhasse o seu desenvolvimento.

Todos os anos no dia dos pais, Mirella esperava que seu pai aparecesse. Ela ansiava por uma abraço carinhoso. Ela tinha o padrasto, mas não gostava dele. O abraço do avô não substituía o abraço que ela esperava receber do seu pai.

Os cartões feitos na escola eram dados ao avô, quando na verdade a menina queria entregá-los ao seu pai.

Anos após anos, Mirella sentia inveja de suas amigas e até mesmo de suas irmãs por parte de mãe. Elas tinham a presença do pai e um abraço carinhoso a hora que quisessem.

Seu pai, assim como sua mãe, também formara outra família. Tinha outros filhos que ocupavam sua vida e recebiam seus abraços. Talvez por isso ele não sentisse falta da filha que deixou para trás.

Mirella passou toda a infância sem a presença dele. Na adolescência a ausência daquele homem, que fora importante na sua concepção, foi marcante. Ela sonhava passear de mãos dadas com o seu pai e tê-lo junto a si nas datas comemorativas, nos eventos escolares e no seu casamento.

Ela sabia que seus irmãos por parte de pai tinham tudo aquilo que ela desejava, aquilo que  nunca havia recebido dele. Para ela não havia sequer alguma migalha do amor paterno.

No dia do casamento, como todas as noivas, o sonho era ter o pai ao seu lado caminhando até o altar e entregando-a ao noivo.

Tudo não passou de um sonho. Seu pai não participou de nenhum momento importante da sua vida. Mas, ela continuava acreditando que um dia receberia o tal esperado abraço.

Depois que Mirella se tornou mãe pela primeira vez, de um belo menino, com o apoio do marido, um rapaz de coração puro e bondoso, resolveu dar uma chance ao pai.  Foram visitá-lo para que ele conhecesse o neto.

Mirella se apiedou do homem sofrido que encontrou, após anos de separação. Sentiu empatia por ele. Conheceu seus irmãos, adicionou-os em sua rede social.

A partir daquele dia começaram a manter contato. Falavam-se por telefone e a esperança de ter o amor do pai a encheu de esperança. Voltou a ser aquela menina carente do amor paterno.

Ele veio visitá-la, uma vez, antes do pequeno Arthur completar um ano de idade.

O tempo passou muito rápido, cada um levando a sua vida. As conversas telefônicas foram diminuindo. As mensagens foram rareando.

Pela segunda vez, Mirella se tornou mãe. Nasceu uma linda menina, a Manuela. Mais uma vez, ela sentiu necessidade da presença do pai. Queria que ele estivesse presente na vida dos netos como não esteve na sua.

Por mais duas vezes, ela e a família foram ao encontro do seu pai. A primeira para ele conhecer a neta e a segunda para estreitarem os laços. Seus filhos precisavam conhecer o avô e aprender a amá-lo.

Esse último encontro aconteceu em 2012. Dali em diante foram muitas promessas, por parte dele, de que viria visitá-los. A decepção aumentava a cada desilusão.

E a cada promessa não cumprida, depois que a neta começou a sentir a sua ausência, vinha o choro da menina. O neto, muito apegado aos avós paternos, ficava indiferente. Mirella, cansada das promessas, parou de se comunicar com ele.

Assim como ela cresceu sem o amor de pai, seus filhos teriam que crescer sem o amor do avô materno.

Este ano, ela soube que seu pai estava vindo todo final de semana para se encontrar com uma mulher.

No domingo de Páscoa, ela estava na casa da avó, sua segunda mãe, quando ele apareceu.

O neto o cumprimentou com educação e a neta o abraçou carinhosamente. Esqueceu das promessas não cumpridas. Todos os outros familiares o trataram bem. Porém, ela, a filha que por muito tempo esperou um abraço caloroso, uma declaração (tardia) de amor, percebeu que dentro dela não havia mais nenhum sentimento de ternura por ele.

Enquanto lavava a louça, lágrimas teimavam em escorrer do seus olhos. Sentia-se vazia. Ele despediu-se sem o abraço de desculpas pelo abandono, sem a promessa de que se faria presente na sua vida e na vida dos netos.

Ele tinha vindo, não por causa dela, mas por causa da namorada que arrumara. Agora não havia desculpas de falta de tempo ou outra desculpa qualquer. Ele estava vindo todo final de semana.

Onde estava o amor de pai e filha? Talvez ele não soubesse ou não tenha conseguido expressar seus sentimentos. Talvez ele tenha perdido a oportunidade de buscar uma reconciliação. De justificar seus erros.

E Mirella? Mesmo admitindo que não sente mais nada pelo pai, no fundo ela ainda espera por aquele abraço que tanto fez falta na sua infância e adolescência. Ela espera que ele a reconquiste aos poucos, que insista pelo seu perdão, que desperte em seu coração aquele amor que foi sufocado pelas mágoas.

Quando um homem se separa da esposa, ele não pode esquecer os filhos mesmo que forme outra família e tenha outros filhos. Não pode magoar os sentimentos de uma criança. Sempre é tempo para recomeçar, para se perdoar e ser perdoado.

As lágrimas secam nos olhos de Mirella assim como a esperança de um relacionamento normal entre pai e filha desaparece.

Aquele abraço que ela esperou a vida toda receberá um dia? Seu pai a conquistará novamente? Os laços serão reatados entre os dois? 

Obrigada pela visita e pelo comentário! 
Uma linda semana!!

                                                    Beijos,
                                                         Cidália.










domingo, 16 de abril de 2017

Passeio inesquecível



Uma semana antes da viagem comecei a organizar a mala e a providenciar as coisas que pretendia levar.

Não sou compulsiva, mas senti necessidade de comprar algumas roupas novas para a viagem. De vez em quando é bom renovar o guarda roupa e por que não nessa ocasião?

O grupo criado pela organizadora estava a mil! Todos os participantes eufóricos com a proximidade da data.

Desde que me aposentei é a quarta viagem que faço com as amigas. A terceira para o nordeste. Dessa vez eu ficaria num quarto com outras duas pela primeira vez. Uma conhecida e outra desconhecida. Das minhas companheiras apenas duas iriam e ficariam juntas.

Enfim, chegou o dia. Saímos de madrugada, mal dormi no ônibus até o aeroporto. Pegamos o avião às 8:45h e chegamos em Recife a tarde. Tomamos o ônibus com destino a Porto de Galinhas.













Assim que chegamos, fizemos o check in no resort e subimos para o quarto. Conheci a outra companheira de quarto e de cara simpatizei com ela. Acredito que foi recíproco. Ela sentou-se ao lado da minha conhecida no avião sem imaginar que ficariam juntas.

A primeira impressão que tivemos da vila e do resort não foi boa. Porém, ao entrarmos no quarto, abrirmos a porta da varanda e nos depararmos com a vista magnífica, mudamos de opinião.


Descemos e fomos explorar a redondeza. Eu e uma das companheiras fomos caminhar na praia. Tomei uma água de coco e ela uma cerveja. Curtimos, também, a área da piscina.

A noite nos preparamos para o jantar e em seguida pudemos prestigiar uma boa música ao vivo.

No dia seguinte acordamos cedo para o primeiro passeio, depois de um belo café da manhã. Fomos conhecer a praia dos Carneiros. Andamos de catamarã e nos divertimos muito com direito à música ao vivo. O povo estava super animado!



Meus olhos ficaram impressionados com tanta beleza. Quão bela é a natureza! Muitas vezes não nos damos conta do que temos a nossa volta.



Fizemos três passeios de bugue e conhecemos várias praias. Entre elas, a praia dos Carneiros, Muro Alto, Cupe, Maracaípe, Porto de  Galinhas, Xaréu e Calhetas. As  piscinas naturais, os peixinhos que vêm comer bem perto da gente, os arrecifes.


Teve mergulho, passeio de jangada e jet ski. Algumas amigas fizeram esses passeios. Preferi ficar de fora.



Ah, não posso esquecer dos artistas que demonstraram seu trabalho com palha de buriti ou pintura a dedo.

As noites passadas em Ipojuca, no resort, ficarão na memória. Para cada noite um tema (italiana, nordestina, espanhola, etc.) com direito à animação pela equipe responsável. Na noite do forró na varanda dançamos até quadrilha.

Aproveitamos  a piscina onde fizemos hidroginástica e tiramos muitas fotos.


Depois fomos ao Recife onde pudemos passear na feirinha local e tomar um chope bem gelado para matar a sede.




No dia seguinte saímos cedo para fazermos o tour pelo Recife antigo, praça do Marco Zero, onde tiramos fotos com a sombrinha do frevo e no letreiro da palavra RECIFE.



O guia contou a história da cidade, da colonização e sobre outras curiosidades. Nem todos prestaram atenção, queriam aproveitar para fotografar todos os momentos.

Visitamos a Casa dos Bonecos Gigantes, a Embaixada de Pernambuco com a apresentação da dança típica, o frevo.



Fomos à Casa da Cultura (antiga casa de detenção) com lojas de artesanato e comidas típicas.

Após o almoço, num restaurante caro, subimos a ladeira de São Francisco. Foi cansativo por causa do calor intenso, mas aguentamos corajosamente. Passamos pelo Convento e pela Capela de São Roque. Conhecemos a igreja da Sé.



Na volta, seguindo o tour panorâmico, passamos pela Praça da República onde se encontram o Palácio do Governo, o Teatro de Santa Isabel, o Palácio da Justiça.


Passamos na Cachaçaria Carvalheira onde houve explicação sobre o processo de fabricação e envelhecimento da cachaça.
No dia seguinte ainda deu tempo de irmos ao mercado livre para comprarmos algumas lembranças e de tirarmos fotos na praia de Boa Viagem, antes de nos prepararmos para a viagem de volta. Almoçamos num restaurante em frente ao hotel.


Foi um passeio maravilhoso e nem tive acesso a todas as fotos, ainda, porque uma amiga está organizando as fotos da câmera dela.
São lembranças que ficarão para sempre na memória, juntamente com as lembranças de Vitória, Salvador e Fortaleza.
Como disse minha nova amiga, não há remédio melhor que uma viagem!

Obrigada pela visita neste meu cantinho que, hoje, não trouxe nenhuma história ou reflexão, mas sim uma pequena narrativa sobre o passeio deste ano. Espero que tenham gostado.
Uma semana com muita paz no coração e repleta de amor!

Um abraço!
Cidália.

PS: estou atrasada, mas espero responder em breve todos os comentários.


domingo, 9 de abril de 2017

Respeito


Uma palavra tão significativa, mas que infelizmente, algumas pessoas não a conhecem. Todos sabem dos seus direitos e deveres. Seria tão bom se esses direitos e deveres fossem respeitados!

Dentro da minha casa posso fazer o que quero, a hora que bem entender? Posso chegar em casa à meia noite, ligar o som no último volume, numa noite de domingo e deixá-lo ligado até de madrugada?

E meus vizinhos, crianças e idosos que estão dormindo? Ou os vizinhos que levantam cedo para trabalhar, que têm compromisso e responsabilidades? Ah, eles que passem o dia bocejando, não me importo!

Este post traz uma reflexão sobre determinado tipo de pessoas, jovens inconsequentes e mal educados que não estão nem aí para os outros. 

Já nem penso mais no tipo de “música” que ouvem. Letras pornográficas, provavelmente, gravadas no fundo de algum quintal. O que me deixa preocupada é a falta de respeito com os vizinhos. Nem tanto por mim que posso acordar mais tarde, mas por àqueles que tem compromisso na manhã seguinte.

Muitos dirão que basta ligar para a polícia. A questão é que se todos respeitassem seus direitos e cumprissem seus deveres não haveria necessidade de intervenção policial.

Se o “fulano” quer ouvir porcaria pode ouvir a vontade, contanto que ouça no volume normal e dentro do horário que não incomode ninguém.

Quando digo porcaria, nem tenho coragem de postar trechos das barbaridades que são citadas nessas cantorias.

Na madrugada passada, o furdunço começou a uma e se estendeu até lá pelas quatro e meia. Dessa vez, além do som que parecia estar dentro de casa, ouvia-se vozes e xingamentos. Parece que o barraco foi feio.

Parecia que eu estava vivenciando a história de ficção escrita por mim, “A Casa ao Lado”. Pensei nas atitudes tomadas pelos personagens da trama de suspense. O que eu deveria fazer? Não, não ouvi nenhum tiro como na trama. Era apenas um quebra pau. Não sei se alguém chamou a polícia.

Continuei deitada, me virando na cama até que o barulho cessou e eu pude voltar a dormir.  Pensei nos outros vizinhos. Será que eles têm o sono pesado e não se incomodam com o barulho? 

Confesso que torci para que o aparelho de som pifasse e que não tivesse conserto. Ou que de repente esse ser se tocasse e tivesse um pouco de compaixão. Que respeitasse seus vizinhos, assim como algum dia deve ter respeitado seus pais.  


O que passa na cabeça de determinados jovens? Será que querem chamar a atenção? 

Gostaria de saber a sua opinião!

Obrigada pela visita!!

Uma semana abençoada a todos!

PS: Que todos possam ter tranquilidade para dormir a noite! Que a paz reine na sua vizinhança!

Abraços,

Cidália.






domingo, 2 de abril de 2017

Liberdade





Duas amigas que se comprometeram a visitar uma vez por mês, àquela que foi companheira de trabalho durante muitos anos, saem à rua protegidas pelas sombrinhas. O calor é intenso e o sol queima a pele. O protetor solar derrete no rosto por causa do suor.

Ao chegarem a encontram deitada no sofá assistindo um programa na TV. A porta estava entreaberta e elas entram fazendo brotar um sorriso naquele rosto cansado. Cansado? Sim, cansado da monotonia que se tornou a sua vida. E num de seus desabafos ela diz, olhando para as amigas.

- Eu só queria um pouco de liberdade. O meu direito de ir e vir sem dar satisfação a ninguém. O direito de escolher e comprar uma roupa nova, pintar meu cabelo, fazer as unhas e servir um café para vocês.

Então, as duas amigas que já tinham colocado o refrigerante e o bolo que levaram na geladeira, disseram a ela que não se preocupasse.

“Ela” comentou que no dia anterior, uma das filhas chamara a sua atenção, dizendo que ela precisava reagir, levantar do sofá, resgatar a sua vaidade e sair para visitar as amigas, caminhar, fazer alguma coisa.

Qual o dia da semana? Sua mente pregava-lhe algumas peças. Estava perdida. Às vezes, não lembrava se tinha almoçado. Pequenos esquecimentos como acontecem com todo mundo, independente da idade.

Contou que faz suas orações diariamente em casa já que não vai à igreja. Sabe de cor alguns Salmos.

Suas amigas perguntaram sobre a máquina de costura que ela sabia usar tão bem e no passado havia sido muito útil. Poderia ser um ótimo passatempo, além de ser lucrativo. Ela poderia fazer barras de calças ou confeccionar algumas roupas.

Ah, a velha máquina estava abandonada num canto qualquer da casa, desde o dia em que "ela" se formou e começou a trabalhar. Faltava uma peça, quem sabe tivesse conserto?

- Você leu o livro que sua vizinha te emprestou? – perguntou uma delas.
- Li e posso contar a história se vocês quiserem.

Outros assuntos surgiram e, de repente, "ela" disse que preferia estar morta, assim não estaria sofrendo.

- Não diga isso nem de brincadeira, você está muito bem, só precisa seguir os conselhos da sua filha. – disse a outra amiga.

Conversa vai, conversa vem, enquanto sentavam-se à mesa da cozinha, as amigas encheram-na de esperança.

"Ela" só precisa acreditar que ainda é capaz de tomar suas próprias decisões, de recuperar a sua dignidade e a sua auto estima. Precisa fazer alguma coisa que gosta para ocupar o tempo e se sentir útil.

Dentro dela ainda resta muito da pessoa que foi, um dia, antes de ouvir a palavra que passou a assombrá-la. Uma palavra que a assustou e a fez refém da solidão. Uma palavra que define a doença que ela afirma não ter mais. Alzheimer!


PS: A mente nos prega peça, muitas vezes, não importa a idade. É comum dizermos ou ouvirmos a frase, "esqueci de fazer tal coisa" ou trocarmos uma palavra ou o nome de alguém.
Mas, quando esses esquecimentos ou trocas passam a ser preocupantes? 

Se você gostou do texto deixe um comentário, pois sua visita é gratificante para mim. 

Muito obrigada!!

Desejo a você uma excelente semana!

Abraços,
Cidália.